Cicatrizes nas roupas e beleza que se repete

Carregamos em nosso corpo marcas e cicatrizes que contam histórias — de quedas, superações, cesáreas, cirurgias, machucados e tempos vividos. Nenhuma delas nos torna menos belos; ao contrário, revelam nossa trajetória. O mesmo deveria valer para as roupas que usamos. Uma peça com um reparo, um remendo ou um ajuste não perde valor — ganha significado.

Aquilo de que gostamos, queremos repetir. O desgaste de uma roupa querida é sinal de utilidade, de afeto e de preferência. Cada marca no tecido mostra que ela cumpriu seu papel: nos vestiu em dias bons e ruins, acompanhou momentos e memórias.

Mas vivemos tempos em que o vestuário é tratado como descartável: roupas são compradas, usadas poucas vezes e logo substituídas, gerando montanhas de resíduos e desperdício de recursos naturais. Cada calça jogada fora, cada vestido ignorado por um pequeno defeito ou por não servir mais sem o devido ajuste ou por não poder ser repetido, carrega um custo ambiental enorme — água, energia, trabalho e matéria-prima desperdiçados.

Valorizar o conserto é também valorizar a história, o cuidado e a consciência. Assim como nossas cicatrizes, as roupas reparadas e gastas nos lembram que o que é vivido, ajustado e preservado tem muito mais alma do que o que é simplesmente substituído.

Nossa maior beleza — quem somos de verdade — se repete todos os dias. Por que, então, não repetir também uma peça de roupa?